quarta-feira, 21 de junho de 2017

O nosso "encerramento" na presença de Stuart Hall

Livro Cultura e Representação de
 Stuart Hall- Foto: Agenor Sarraf
“O ESPETÁCULO DO OUTRO”
No último encontro da disciplina “Leituras em Antropologia: História Oral e Análise do Discurso” em parceria com as atividades do Grupo de Estudos Culturais na Amazônia (GECA/CNPq/UFPA), lemos e debatemos “O ESPETÁCULO DO OUTRO”, segunda parte do fascinante e impactante livro de Stuart Hall, “CULTURA E REPRESENTAÇÃO”, publicado no Brasil em 2016, dois anos após sua partida para o mundo das estrelas imortais. O Sociólogo negro da Jamaica “mais lido na Europa e na América Latina” (SANSONE, 2014, p. 6), pensador que melhor sistematizou as diferentes pesquisas desenvolvidas pelo Centro de Estudos Culturais Contemporâneos em Birmingham, entre 1968-1979, quando assumiu a direção do centro, quatro anos antes do nascimento da instituição com a participação de Richard Hoggart e Raymond Williams. A partir daí, Stuart Hall fez os Estudos Culturais esgarçarem centros tradicionais de poder intelectual pelo mundo, tornando-se crítico das epistemologias reducionistas que focalizaram suas leituras tão somente no econômico, textual ou cultural e invisibilizaram mundos e gentes nas margens da Europa. Defensor do projeto da teoria como arma política, Hal transformou sua humanista e politizada condição de vida na diáspora em uma polifonia de lutas em defesa do “outro”, representado não apenas pelo negro, mas também por mulheres, acrescentaríamos indígenas, homossexuais e populações historicamente marginalizadas, silenciadas e desrespeitadas em seus modos de viver e na garantia de direitos humanos (SARRAF-PACHECO, MALCHER e MIRANDA, 2016, p. 91-2). Em “O ESPETÁCULO DO OUTRO”, para entender o poder da mídia na construção social da realidade, com destaque para as representações forjadas na modernidade sobre o corpo negro, o intelectual da diáspora mergulha em estudos linguísticos, semióticos, sociológicos, antropológicos, comunicacionais, filosóficos e psicológicos. Com isso, deixa perceber a representação em perspectiva criativa, um campo de produção cultural pelo pluriverso da linguagem como produtora de significados compartilhados em lugares e tempos geohistoricamente situados. Neste capítulo, desvenda as engrenagens de funcionamento do “Espetáculo do Outro”, por meio do conceito de “estereotipagem” captado em “publicidades que utilizam modelos negros, reportagens jornalísticas sobre imigração, ataques raciais ou crimes urbanos, além de filmes e revistas cujo âmago são as categorias raça e etnicidade” (HALL, 2016, p. 139), desmontando o discurso da diferença para mostrar suas armadilhas, ambiguidades e efeitos, muitas vezes, perversos. O autor atravessa, então, a ciência raciológica, fundadora da ciência moderna eurocentrada, articulada aos eixos gênero/sexualidade, classe e expõe as vísceras dos regimes de representação como regimes de poder na contemporaneidade hierarquizada, racista, classificatória, patriarcal. Os regimes de representação, em última guinada, construíram o outro como ser impossível de existência, de história, agência e capacidade de construir civilizações no planeta. Ler Hall mobiliza sentimentos confusos porque mistura a alegria e a dor, mas ao mesmo tempo revigora a vontade de querer continuar pelo campo da Educação e formação de novos pesquisadores a luta pela construção e reconhecimento de que o maior patrimônio do planeta são nossas sociedades multiétnicas e interculturais, portanto, as cores da diferença são húmus e potências da vida humana.


"A imagem carrega muitos significados, todos igualmente plausíveis. O importante é o fato de que ela mostra evento (denotação) e carrega uma "mensagem" ou significado (conotação)- Barthes a chamaria de "metamensagem" ou de "mito" sobre "raça", cor e "alteridade". Não há como deixarmos de ler esse tipo de foto como uma imagem que "quer dizer algo", não apenas sobre as pessoas ou a ocasião, mas também sobre a "alteridade" delas, a "diferença". A "diferença" está marcada. A forma como é interpretada é uma preocupação constante e recorrente na representação de pessoas racial e etnicamente diferentes da maioria da população. A diferença possui significado. Ela "fala"." (Stuart Hall 2016, p. 146.) 



Além disso, tod@s tiveram um momento para comunicar suas pesquisas. Foi o momento de compartilhar as escritas e conhecimentos acadêmicos deixando de lado a experiência individualizada da pesquisa.





O momento festivo de junho nos trouxe a leitura da obra de Stuart Hall conjuntamente com sentimento afetivo das festas juninas e, além disso, a comemoração do aniversário do professor Agenor Sarraf.

Decoração junina- Universidade Federal do Pará
Parabéns ao Professor Agenor Sarraf