terça-feira, 27 de junho de 2017

Grupo de Estudos Culturais na Amazônia: Memórias na História


Há 6 anos nasceu na UFPA o Grupo de Estudos Culturais na Amazônia (GECA/CNPq/UFPA) sob minha coordenação e do professor Dr. Jeronimo Silva E Silva. Inspirado inicialmente nos escritos seminais de intelectuais nascidos ou diasporizados na metrópole britânica, fundadores do Centre for Contemporary Cultural Studies (CCCS), sediado na Universidade de Birmingham-Londres, e parceiro do Centro de Estudos Culturais Africanos e da Diáspora (CECAFRO/CNPq/PUC-SP) na regência da querida e inesquecível professora Drª. Maria Antonieta Antonacci, o GECA passou a refletir e investigar a diversidade de experiências e realidades socioculturais, políticas, econômicas e geohistóricas que conformam ruralidades e urbanidades, estéticas do cotidiano, oralidades e escritas, expressões de tradições e modernidades, patrimônios, saberes e religiosidades afetivas e locais frente à lógica de projetos globais no plural e intersticial mundo amazônico, construído e movimentado por populações indígenas, africanas, lusitanas, afroindígenas, árabes, entre outros povos e culturas que por aqui se interculturalizaram em teias de profundas mestiçagens e/ou criuolizações. Nesse entremeio, as leituras epistemológicas guinaram para os circuitos dos Estudos Culturais Latino-americanos, Estudos Subalternos, Pós-Coloniais e, mais recentemente, Decoloniais e escritos da Antropologia Pós-Moderna, sempre cruzando com perspectivas teórico-metodológicas da História Oral, Etnografia, Cartografia e Etnobiografia. Durante esses 06 anos, o grupo contribuiu e vem contribuindo com a formação de bolsistas PIBIC, bacharéis e licenciados plenos, mestres/mestrandos, doutores/doutorandos e pós-doutorandos em Artes, Antropologia, Comunicação, Linguagens e Cultura, História, Educação, Museologia, Letras, Turismo, para citar as principais áreas onde o debate e a formação intelectual e política vêm se fertilizando. Nesse período, o GECA realizou ainda dois colóquios nacionais de Estudos Culturais na Amazônia e publicou duas importantes coletâneas de textos acerca de pesquisas desenvolvidas por seus integrantes e outros pesquisadores que participaram dos eventos acadêmicos. O primeiro livro contou com apoio e parceria do NEAB-IFPA, coordenado pela querida amiga e professora Helena Rocha, e o segundo evento e a coletânea só foram possíveis pela afetiva e competente parceria com o GPAC-UFPA, dirigido pela querida professora Maria Ataide Malcher. Na construção de um repertório de produções acadêmicas, pesquisadores do grupo vêm publicando artigos em revistas científicas ou anais de eventos, capítulos em livros, assim como têm colaborado com a realização de eventos nacionais e internacionais em outros estados brasileiros. Quinzenalmente em cada semestre, sempre às segundas-feiras, das 14h às 18h, o grupo seleciona uma temática de estudo e realiza seus encontros, prática que tem contribuído significativamente com o desenvolvimento das diferentes investigações produzidas ou em produção. Ontem (23/06), para celebrar seus 6 aninhos, o GECA foi convidado pela professora Lia Braga para participar, na sala de Recitais do CCSE-UEPA, da conferência "HISTÓRIA ORAL: Uma aventura entre o Saber e o Conhecimento", proferida pelo professor Dr. Jose Carlos Sebe Bom Meihy (USP), um dos grandes nomes do trabalho com História Oral no Brasil. Aproveitamos o momento, então, para lançarmos nossa camisa em edição comemorativa aos 6 anos do grupo. Agradecemos à Ninon Jardim que coordenou o projeto gráfico da camisa, explorando um outro grafismo marajoara, descoberto por Lucas Araújo em sua pesquisa de mestrado em Antropologia. Trata-se de um grafismo captado por viajantes estrangeiros que ao percorreram a Amazônia no século XIX encontraram-se com poderosas mulheres indígenas em artesanias no estreito de Breves. Nas louças confeccionadas e pintadas por essas mulheres e depois adquiridas e transitadas para museus europeus como o de Harvard, os desenhos exploram outras cores e representações cosmológicas da pluriversal Amazônia Marajoara. Jeronimo Silva E Silva,Ninon JardimJosiane MeloDaniel MirandaÍtala Barbosa da SilvaBruno Marcelo CostaFrancinete LimaAirton Chaves RochaEduardo Wagner,Jaime Cuellar VelardeMarcos Valério Reis ReisWalter ChileCarmen CarvalhoValéria Frota de AndradeDerik Vale ReisDiana Priscila Sá AlbertoRodrigo Maroja BarataRodrigo WanzelerClaudete SilvaSônia AmaralDione LeãoVivianne NunesEliane CostaAna SmithMário Médice BarbosaHermes Veras



Dr. Jose Carlos Sebe Bom Meihy e suas obras 


Dr. Jose Carlos Sebe Bom Meihy com o GECA
Grupo de Estudos Culturais na Amazônia completando seis anos




quarta-feira, 21 de junho de 2017

O nosso "encerramento" na presença de Stuart Hall

Livro Cultura e Representação de
 Stuart Hall- Foto: Agenor Sarraf
“O ESPETÁCULO DO OUTRO”
No último encontro da disciplina “Leituras em Antropologia: História Oral e Análise do Discurso” em parceria com as atividades do Grupo de Estudos Culturais na Amazônia (GECA/CNPq/UFPA), lemos e debatemos “O ESPETÁCULO DO OUTRO”, segunda parte do fascinante e impactante livro de Stuart Hall, “CULTURA E REPRESENTAÇÃO”, publicado no Brasil em 2016, dois anos após sua partida para o mundo das estrelas imortais. O Sociólogo negro da Jamaica “mais lido na Europa e na América Latina” (SANSONE, 2014, p. 6), pensador que melhor sistematizou as diferentes pesquisas desenvolvidas pelo Centro de Estudos Culturais Contemporâneos em Birmingham, entre 1968-1979, quando assumiu a direção do centro, quatro anos antes do nascimento da instituição com a participação de Richard Hoggart e Raymond Williams. A partir daí, Stuart Hall fez os Estudos Culturais esgarçarem centros tradicionais de poder intelectual pelo mundo, tornando-se crítico das epistemologias reducionistas que focalizaram suas leituras tão somente no econômico, textual ou cultural e invisibilizaram mundos e gentes nas margens da Europa. Defensor do projeto da teoria como arma política, Hal transformou sua humanista e politizada condição de vida na diáspora em uma polifonia de lutas em defesa do “outro”, representado não apenas pelo negro, mas também por mulheres, acrescentaríamos indígenas, homossexuais e populações historicamente marginalizadas, silenciadas e desrespeitadas em seus modos de viver e na garantia de direitos humanos (SARRAF-PACHECO, MALCHER e MIRANDA, 2016, p. 91-2). Em “O ESPETÁCULO DO OUTRO”, para entender o poder da mídia na construção social da realidade, com destaque para as representações forjadas na modernidade sobre o corpo negro, o intelectual da diáspora mergulha em estudos linguísticos, semióticos, sociológicos, antropológicos, comunicacionais, filosóficos e psicológicos. Com isso, deixa perceber a representação em perspectiva criativa, um campo de produção cultural pelo pluriverso da linguagem como produtora de significados compartilhados em lugares e tempos geohistoricamente situados. Neste capítulo, desvenda as engrenagens de funcionamento do “Espetáculo do Outro”, por meio do conceito de “estereotipagem” captado em “publicidades que utilizam modelos negros, reportagens jornalísticas sobre imigração, ataques raciais ou crimes urbanos, além de filmes e revistas cujo âmago são as categorias raça e etnicidade” (HALL, 2016, p. 139), desmontando o discurso da diferença para mostrar suas armadilhas, ambiguidades e efeitos, muitas vezes, perversos. O autor atravessa, então, a ciência raciológica, fundadora da ciência moderna eurocentrada, articulada aos eixos gênero/sexualidade, classe e expõe as vísceras dos regimes de representação como regimes de poder na contemporaneidade hierarquizada, racista, classificatória, patriarcal. Os regimes de representação, em última guinada, construíram o outro como ser impossível de existência, de história, agência e capacidade de construir civilizações no planeta. Ler Hall mobiliza sentimentos confusos porque mistura a alegria e a dor, mas ao mesmo tempo revigora a vontade de querer continuar pelo campo da Educação e formação de novos pesquisadores a luta pela construção e reconhecimento de que o maior patrimônio do planeta são nossas sociedades multiétnicas e interculturais, portanto, as cores da diferença são húmus e potências da vida humana.


"A imagem carrega muitos significados, todos igualmente plausíveis. O importante é o fato de que ela mostra evento (denotação) e carrega uma "mensagem" ou significado (conotação)- Barthes a chamaria de "metamensagem" ou de "mito" sobre "raça", cor e "alteridade". Não há como deixarmos de ler esse tipo de foto como uma imagem que "quer dizer algo", não apenas sobre as pessoas ou a ocasião, mas também sobre a "alteridade" delas, a "diferença". A "diferença" está marcada. A forma como é interpretada é uma preocupação constante e recorrente na representação de pessoas racial e etnicamente diferentes da maioria da população. A diferença possui significado. Ela "fala"." (Stuart Hall 2016, p. 146.) 



Além disso, tod@s tiveram um momento para comunicar suas pesquisas. Foi o momento de compartilhar as escritas e conhecimentos acadêmicos deixando de lado a experiência individualizada da pesquisa.





O momento festivo de junho nos trouxe a leitura da obra de Stuart Hall conjuntamente com sentimento afetivo das festas juninas e, além disso, a comemoração do aniversário do professor Agenor Sarraf.

Decoração junina- Universidade Federal do Pará
Parabéns ao Professor Agenor Sarraf