Quem Somos






Historicamente, o termo Jeca com J, significou alguém desprovido de “cultura” letrada, bons hábitos e costumes. O famoso Jeca-Tatu, criado por Monteiro Lobato, era visto com gente do mato, matuto, rude, portal das verminoses. De um modo geral, pessoas de camadas pobres, oriundos das tradições orais, rurais, ainda são vistas, pelo olhar urbanocêntrico, como pessoas carentes de civilização. O Grupo de Estudos Culturais na Amazônia batizou-se como GECA com G, objetivando enfrentar esse imaginário depreciativo sobre populações da floresta, do campo, das águas, das beiras de estradas, de aldeias, de quilombos e mocambos, de periferias urbanas ou ambiente de margens, historicamente silenciados, propõe-se a contar, a partir de suas pesquisas, uma outra história da cultura popular, erudita e massiva que se configura na região. Consciente das interconexões entre oralidades e letramentos, ruralidades e urbanidades, tradições e modernidades, localidades e globalidades, o GECA, personagem central de nosso grupo de estudo, é alguém que possui suas raízes históricas no mundo amazônico, bebeu na rica cultura popular oral, mas experimenta contínuos processos de deslocamentos e diálogos com outras formas de vida e de luta pela existência.  Nessas intersecções, todos nós, integrantes desse grupo de pesquisa, reconheço-nos como GECA, filhos nativos e adotivos do mundo amazônico, conscientes de que o circuito das tradições, saberes e fazeres de nossas históricas matrizes culturais atravessam-nos cotidianamente, igualmente compreendemos que esse patrimônio material e imaterial, constituinte de nossas identidades, sofreram influências da colonização ibérica, norte-americana, intensificando-se com a disseminação das variadas formas de letramento, culturas e economias tecnológicas em tempos contemporâneos. Se processos de perdas, dominações e dizimações não podem ser esquecidos no contar de nossas histórias, não se pode esquecer que, mesmo em escalas desiguais, traduções culturais por meios de táticas, artimanhas, ressignificações deixam ver nossas astuciosas maneiras de resistir e lutar no palco da cultura.

"Creio que há uma luta contínua e necessariamente irregular e desigual, por parte da cultura dominante, no sentido de desorganizar e reorganizar constantemente a cultura popular; para cercá-la e confinar suas definições e formas dentro de uma gama mais abrangente de formas dominantes. Há pontos de resistência e também momentos de superação. Esta é a dialética da luta cultural. Na atualidade, essa luta é continua e ocorre nas linhas complexas da resistência e da aceitação, da recusa e da capitulação, que transformam o campo da cultura em uma espécie de campo de batalha permanente, onde não se obtêm vitórias definitivas, mas onde há sempre posições estratégicas a serem conquistadas e perdidas"

Terminamos nossa apresentação com uma das teses de Stuart Hall, voz negra jamaicana diaspórica e poderosa dos Estudos Culturais Britânicos e do Pensamento Pós-Colonial, cujo centro da argumentação revela a dinâmica social e os lugares que podemos assumir na vida cotidiana, proscênio das tensões e negociações culturais.