Disponível
em
http://www.acaifrooty.com.br/blog/feira-do-acai-e-referencia-no-mercado-ver-o-peso/.
Acesso em 05/11/2015.
|
O tombamento do Centro
Histórico foi homologado pelo Ministério da Cultura em 10 de maio de 2012. Para
esse processo ocorrer, assinala Christine Machado, “levou-se em conta o
conjunto formado pela trama da cidade consolidada entre os séculos 17 e 18 –
com igrejas e suas torres, largos e praças, coretos, mercados e feiras - em
interação com a Baía de Guajará”. Já o dossiê do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) aponta que a área de tombamento aprovada
pelo Conselho Consultivo incluiu bens já tombados individualmente pelo IPHAN
nas décadas de 1940 a 1970.
Disponível
em
http://amazonia.org.br/2012/05/tombamento-do-centro-hist%C3%B3rico-de-bel%C3%A9m-%C3%A9-homologado-pelo-minist%C3%A9rio-da-cultura/.
Acesso em 05/11/2015.
|
Belém erigiu-se com a
construção de uma improvisada fortificação militar e uma pequena igreja de taipa,
coberta de palha dedicada à Nossa Senhora das Graças, em 1616, marcos simbólicos
da dominação portuguesa, num tempo de morte da gerência do território pelos
tupinambá e o nascimento do núcleo colonial (1616-1626), mais tarde o Estado do
Maranhão e Grão-Pará (1626-1652; 1654-1759) sob a custodia Lusitana. Marcada
pela cruz, espada e arco e flecha, o Centro Histórico de Belém guarda
diferentes memórias, algumas estão tatuadas no patrimônio arquitetônico, outras
se alojam nos subterrâneos de lembranças que as edificações silenciam, mas não
conseguem apagá-las totalmente. Muitas pessoas quando visitam esse histórico ambiente
urbano, ficam encantados com o poder imponente das construções, mas parecem esquecer
as contradições ali existentes.
É importante relembrar que
foram populações indígenas, inicialmente, as que erigiram o primeiro monumento
colonial, por isso evocar e celebrar uma memória da conquista portuguesa na
Amazônia permite visualizar que um processo de tradução cultural orientou o
saber colonizador. Na ótica de representações ibéricas e cosmologias ameríndias
o patrimônio da Cidade Velha se apresenta, então, erigido sobre memórias
oficiais e populares que se cruzam, vivem processos de trocas, experimentam a
dominação, a perda e a expropriação, assim como resistem, criam táticas e
astúcias para manterem-se vivas. O patrimônio do espaço urbano é plural, assim
como plural são os lugares onde ele se manifesta e se ressignifica.
Por esse enredo, o
breve passeio pelo Centro Histórico de Belém permitiu rascunhar aspectos de uma
cartografia de memórias que explora
algumas possibilidades de compreender a cidade por dentro e por fora e na
contramão das antigas dualidades: tradição versus
modernidade; ruralidade versus
urbanidade. Ana Fani Carlos (1995) ao perguntar se “podemos dizer que existem várias
cidade dentro da cidade?, eu diria que vejo não apenas vários bairros dentro da
cidade, mas várias cidades dentro de um único bairro. Ali se interseccionam a
cidade colonial e a cidade da “bela época” tramando-se com a cidade comercial,
festiva e de luta pelos direitos de habitação. Concomitante a essas cidades, despontam
a cidade da prostituição, da violência, do tráfico de drogas produzidas por
dentro e por suas fronteiras.
Disponível
em http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1357367. Acesso em
05/11/2015.
|
Enfim, nas janelas entreabertas para continuar a olhar e pensar Belém a partir da primeira área onde embrionariamente ela se formou, entre continuidades e mudanças as rugosidades espaciais tomam feituras próprias de seu tempo e dos interesses de seus agentes sociais, a exemplo da Praça Dom Pedro II, cujo espaço no período colonial era o grande Lago do Piri, e, atualmente, é onde está instalado o centro administrativo belenense. Um território de ricos ecossistemas foi sacrificado para o nascimento do Centro Histórico e a emergência de uma metrópole na boca de entrada do grande Amazonas. Um passeio por esse bairro transforma-se em prática politicamente comprometida com lembranças das vozes que não podem mais falar, entretanto, ruídos e reminiscências de suas presenças ausentes, ainda lutam para não serem esquecidas da história.
Texto publicado em O LIBERAL, em
15/11/2015.