O GECA é um grupo de estudo, pesquisa e produção de saberes, fundado em 07 de março de 2011, sob a coordenação dos professores doutores Agenor Sarraf Pacheco e Jerônimo da Silva e Silva, registrado no Conselho Nacional Científico e Tecnológico (CNPq) e sediado na Universidade Federal do Pará (UFPA). Fundamentado epistemologicamente nos Estudos Culturais Britânicos, Norte e Latino-Americanos, nos Estudos Subalternos, Pós-Coloniais e, mais recentemente, Decoloniais, o grupo vem, ao longo desses anos, explorando temáticas interdisciplinares que articulam as áreas de Humanidades (História, Antropologia e Educação), Letras, Artes e Ciências Sociais Aplicadas (Comunicação e Museologia). Esse investimento tem permitido o desenvolvimento de novas investigações, olhares e perspectivas analíticas interculturais da realidade sociocultural, local e global, amazônica e brasileira. A base epistemológica em exercício dialoga diretamente com os campos teórico-metodológico da História Oral, Cartografia, Etnografia, Etnobiografia, Micro-História, Crítica de Arte, Crítica Documental, aproximando-se, em alguns momentos, da Análise do Discurso e da Análise do Conteúdo. Agenciado por esse suporte epistêmico, teórico-metodológico, poético e político, o GECA tem procurado debater, problematizar, refletir, socializar e publicizar estudos da realidade brasileira, desde o mundo amazônico, visibilizando variadas fronteiras, trocas, tensões e mesclas construídas por povos, grupos e agentes socioculturais nativos, coloniais, diaspóricos, migrantes e nômades em seus pensares, agires, saberes e fazeres que conformam modos de viver, lutar e defender cosmovisões como formas de praticar direitos humanos, intelectuais e espirituais na região em distintos tempos geohistóricos.
O enorme interesse que os Estudos Culturais como campo indisciplinado do saber ganharam, a partir de sua disseminação na América Latina ao longo da década de 1990, permitiu a formação de pesquisadores interessados em politizar investigações e discussões de temáticas fundamentais aos cenários amazônicos. Nas experiências compartilhadas desde março de 2011, o GECA congrega estudantes de graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado, bem como professores pesquisadores que realizam ou têm interesses em desenvolver pesquisas em epistemes e campos teórico-metodológicos que lhes atravessam. Em seus variados encontros semanais e quinzenais, realizados com planejamento e regularidade, o grupo tem procurado debater a produção de importantes lugares e intelectuais. Começou pela Inglaterra, adentrou a Índia, Palestina, Caribe, América do Norte, América Latina e Brasil para refletir conceituações teóricas à luz de cosmologias e linguagens de populações amazônicas, centrando-se nas formas de negociações, ressignificações, perdas, lutas, resistências e reinvenções em tempos de encontros e confrontos culturais.
Nestes anos de existência, o GECA debruçou-se em obras e textos de/sobre Richard Hoggart, Raymond Williams, Edward Palmer Thompson, Stuart Hall, Raphael Samuel, Frantz Fanon, Aimé Cesaire Albert Memmi, Edouard Glissant, Edward Said, Homi Bhabha, Ranajit Guha, Paul Gilroy, Néstor García Canclini, Beatriz Sarlo, Jesús Martin-Barbero, Walter Mignolo e membros do Grupo Modernidade/Colonialidade, George Yudice, Gayatri Spivak, Boaventura de Souza Santos, Alessandro Portelli, Alistair Thomson, para citar os principais. Sediado até junho de 2013, no Instituto de Ciências da Arte e vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Artes (PPGArtes) e em 2011 ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia (PPGA), no segundo semestre de 2013, o grupo passou a realizar seus encontros quinzenais no auditório do PPGA, transformando seus encontros na disciplina Leituras em Antropologia para oportunizar alunos de variados programas de pós-graduação interessados em leituras, análises e debates das literaturas selecionadas por eixos temáticos.
O GECA conscientes das interconexões entre oralidades, memórias e letramentos, ruralidades e urbanidades, tradições e modernidades, localidades e globalidades, têm procurado refletir e compreender como grupos e pessoas oriundas de diferentes territórios culturais, vivenciam, interpretam e criam significações para conviver com contínuos processos de mudanças impulsionados pelos mais variados suportes tecnológicos que se instalaram e conectaram a região amazônica ao restante do planeta.
Nas intersecções produzidas, os integrantes desses grupos de pesquisa, reconhecendo-se como filhos nativos ou adotivos do mundo amazônico, vêm despertando consciência para os circuitos das tradições, comunicações, artes, saberes, fazeres, visibilizados em patrimônios culturais que congregam e expressam influências amazônicas, europeias, africanas, asiáticas, norte-americanas, intensificando-se com a disseminação das variadas formas de letramento, culturas e economias midiáticas em tempos contemporâneos.
Entendemos que se processos de perdas, dominações e dizimações não podem ser esquecidos no contar das histórias regionais, não se pode olvidar que, mesmo em escalas desiguais, traduções culturais por meios de táticas, recepções ativas, artimanhas e/ou ressignificações deixam ver astuciosas maneiras de resistir e lutar no palco da cultura pelas gentes amazônidas.
A existência de um grupo de estudo, pesquisa e produção de novos saberes na Amazônia é estrategicamente importante por ser a região território por excelência de históricas práticas de marginalização de povos e culturas, em que outros saberes, comunicabilidades, pensares e fazeres são pouco conhecidos e, por isso, desvalorizados pela tradição acadêmica brasileira.
Finalmente, preocupado com a formação intelectual de amazônidas brasileiros e brasileiros que se fazem amazônidas e a produção de saberes sobre diferentes objetos/sujeitos de estudos que se apreendem a partir do/no norte do Brasil, o GECA vêm agregando interessados em investigar diferentes realidades e temáticas com base no conceito de cultura na perspectiva desenvolvida pelo CCCS como “uma forma completa de vida, material, intelectual, espiritual”¹, comunicacional, “incluindo o comportamento simbólico”² e os sentidos e significados que as pessoas de florestas e cidades dão às suas experiências sociais³.
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¹ WILLIAMS, Raymond. Marxismo e literatura. Rio de Janeiro: Zahar, 1979, p. 16.
² NELSON, Cary et al. Estudos Culturais: uma introdução. In: SILVA, Tomaz Tadeu (org.). Alienígenas na sala de aula: uma introdução aos estudos culturais em educação. 6a ed. São Paulo: Vozes, 1995, p. 14.
³ PACHECO, Agenor Sarraf. À Margem dos “Marajós”: cotidiano, memórias e imagens da “Cidade-Floresta” Melgaço-Pa. Belém: Paka-Tatu, 2006.
Texto de Agenor Sarraf Pacheco